AS PEGADINHAS DAS OPERADORAS DE TELEFONIA (COTIDIANO)

“Sua-chamada-está-sendo-encaminhada-para-a-caixa-de-mensagens-e-estará-sujeita-a-cobrança-após-o-sinal-beeeeep!!” (bem rápido)

Ih! Você acabou de perder algumas dezenas de centavos! (pode gargalhar:KKKKK!).

O que se segue a essa rajada impiedosa é sua cara de Mico-leão-da-cara-de-babaca-puto-da-vida, um animal que, infelizmente, NÃO está em extinção.

É assim mesmo que se fica parecendo toda vez que se é pego numa dessas armadilhas que as operadoras de telefonia armam para cima da gente. E isso está tomando um vulto incontrolável. Deve ser um tremenda máquina caça-níqueis para as operadoras.

Nesta outra categoria de mensagem, a pegadinha vem em dose dupla. Vê se você descobre: Você disca (não me recrimine por ter usado o verbo discar; nasci em 1960) para um número qualquer e sua ligação é interceptada pela seguinte mensagem dita por uma jovem com sotaque paulistano (quase corintiano):

“Deixe seu recado! A pessoa vai ouvir gratuitamente e você só será tarifado após o sinal.” Depois disso, ouve-se um “Beep!!”

Não notou onde estão as pegadinhas? Preste atenção porque vou repetir a mensagem, enfatizando as pegadinhas:

“Deixe seu recado! A pessoa vai ouvir gratuitamente e você só será tarifado após o sinalBeep!!”

Tá sorrindo de quê? Isso é coisa científica! É neurolinguística pura!

Você não se apercebe, de imediato, que a mensagem fala que o “serviço gratuito” é de o destinatário OUVIR A MENSAGEM (mas isso sempre foi e será gratuito! Não precisava nem dizer!). O que vai ser mesmo tarifado em milionésimos de segundos é o serviço de você DEIXAR RECADO NA CAIXA POSTAL!

O que ocorre é que, ao ouvir a palavra “gratuitamente”, seu cérebro manda uma mensagem de relaxamento e satisfação: “oh, que legal! Isso é gratuito, manda ver! De graça até ônibus errado!”. Ou seja, você se satisfaz com o que ouve (gratuitamente), relaxa, e nem presta atenção aos termos finais da mensagem (a informação de que sua mensagem “só” será tarifada depois do sinal).

Só que o sinal (BEEP) já vem colado com o final da frase e você, incauto leitor, sequer tem tempo de entender o que se passou! Se for nesses smartphones touchscreen que têm descanso de tela, então, aí é que você dança mesmo, pois, até que a tela responda ao toque, rescenda, você a destrave e clique para desligar a chamada, é possível que você já tenha entrado no segundo minuto da ligação!

Quando você vem se dar conta de que foi tapeado e perdeu mais algumas dezenas de centavos, de novo você fica com aquela cara de Mico-leão-da-cara-de-babaca-puto-da-vida! “Puta que pariu!”, você provavelmente bradará, se é que entendeu a pegadinha.

Quer ver outra?

Eu ainda não alcancei onde algumas operadoras querem chegar, ou se ganham alguma coisa (devem ganhar, obviamente!) para intervir em sua chamada somente para lhe dar uma mensagem absolutamente inócua e completamente dispensável “O número que você chamou está ocupado. Tente mais tarde”! Já passou por essa?

Desconfio, seriamente, que, quando isso ocorre, sua ligação é tarifada, porque alguma engenhoca tecnológica adrede preparada pela operadora deve cuidar de tarifar a chamada e pingar algumas moedas a mais em seus polpudos cofres. Não é nostalgia, não, mas o velho e infalível sinal de ocupado “beep-beep-beep-beep” resolveria, tranquilamente, essa parada, sem me deixar com essa dúvida atroz.

Agora imaginem isso ocorrendo milhares, quiçá milhões, de vezes ao mesmo tempo em todo o país! O quanto isso não significa para a economia popular?

Por último vêm as chamadas a cobrar, que são uma outra modalidade em destaque.

Você tem 6 segundos para identificar quem está ligando para seu número, caso contrário a ligação é tarifada. O pior é que o infeliz do discador a cobrar nem se dá o trabalho de dizer o nome e a cidade de onde está falando!

Seu telefone toca às 23:15h, você já deitado tentando pegar no sono, ou, se for um daqueles raros dias, você se encontra devidamente bem acompanhado e já se está “a postos” depois de algumas preliminares, com as turbinas já aquecidas, chega uma ligação a cobrar em seu telefone:

“Turu-tururu-tururu... Chamada a cobrar! Para aceitá-la, continue na linha após a identificação... tu-ruuu!”.

“Quem será a essa hora?, você se pergunta, enquanto a mensagem toca. Antes de qualquer reação sua, uma voz do outro lado da linha, sem se identificar diz: 

“Ói, Dinho... (registre-se que seu nome é Carlos e você não tem esse apelido) ... num vai dá pr'eu saí hoje não, mode minha patroa pediu pra mim ficar tomando conta do Toninho. Me ligue amanhã, viu? Um beijnho bem naquele lugar” beep-beep-beep! 

E lá se foram mais algumas dezenas de centavos, além de que você vai ter que começar tudo do zero naquilo que você estava fazendo, se sua companhia já não estiver roncando!

É lasca, não é, Sr. Mico-leão-da-cara-de-babaca-puto-da-vida?!

Se essas regras estão em conformidade com as normas da ANATEL, então o problema é outro: extinga-se a ANATEL, porque pelo menos nesse particular, está jogando no lado contrário!

Tenho visto o Ministério Público atuar em tantas frentes de batalha, principalmente naquelas que dão visibilidade, entrevista coletiva, manchetes de primeira página, geralmente em casos que causam comoção pública. Obviamente tem muito membro do parquet que se preocupa apenas em cumprir seu papel institucional, independentemente de os holofotes estarem ligados e dos perigos dessa missão tão nobre. Taí algo em que se debruçar para defender os direitos do consumidor.

Se, pelo menos, a dona da voz dessas mensagens fosse aquela voz rouca e sensual da Íris Lettieri (aquela mesma que soa nos aeroportos “Atenção senhores passageiros do voo 174. Dirijam-se ao portão 2. Embarque imediato!”), a gente ainda ficaria um pouco menos indignada!