Era perto
do meio dia daquele fatídico 09 de dezembro de 1980 quando a mim chegou
a notícia mais triste daqueles tempos, enquanto o locutor narrava
seu texto mostrando alguns gols do time inglês Liverpool, tendo, ao
fundo, o som da seguinte canção tocada na edição do Globo Esporte
daquele dia:
“You
say yes, I say no
You
say stop, but I say go, go, go
Oh no
You
say goodbye and I say hello
Hello,
hello
I
don't know why you say goodbye
I say
hello, hello hello...”
John
Lennon tinha sido assassinado na noite anterior, dizia a notícia. Os
gols do Liverpool que a reportagem mostrava eram uma conexão do esporte bretão com o time da
preferência de Lennon.
A canção,
embora de letra aparentemente simples, é, para mim, uma das tantas
obras primas dos Beatles, e foi magistralmente eleita por quem
produziu aquela edição do Globo Esporte, pois, além de mostrar o
lado contestador próprio da juventude engajada
dos anos 60 representada, em parte, por Lennon e McCartney, também expressava uma
verdade que se encaixou perfeitamente no contexto daquele momento:
Lennon nunca partiu, nunca disse “adeus”; nós, também, nunca o
fizemos. Já se passaram 31 anos e ele continua vivo até para as
gerações que nasceram após sua morte.
Mas,
ironicamente, a notícia tornava irremediável e inevitável outra de
suas famosas frases: “The dream is over”. Sim. Nosso sonho
de ver os Beatles juntos novamente, tocando nem que fossem meia
dúzia de canções em uma apresentação única (eu não faria
questão de estar presente in loco; me bastaria ver o show ao
vivo pela televisão), havia acabado naquela fria noite novaiorquina do
dia anterior.
Lennon, no entanto, nunca foi uma unanimidade. Havia quem o questionasse. Certa
vez, um repórter querendo questionar os verdadeiros propósitos
pacifistas de Lennon lhe inquiriu: “O que você faria, por
exemplo, se uma pessoa viesse em sua direção para cometer uma
agressão?” Ele respondeu, com uma indisfarçável
simplicidade e sem qualquer pudor: “Eu fugiria correndo gritando 'Paz,
irmão, paz”.
E, naquele dia, digerindo aquela notícia, sem entender, ainda, o seu inteiro
significado, fiquei ali parado em frente à TV, tal como
descreveu a jovem e talentosa poetisa alagoana da atualidade Simone Moura e
Mendes no último verso de seu belo poema “Praia da Avenida”:
“Daqui
do alto da janela…
nesse
abrupto despertar
degluto a
saliva
ai que
vontade de chorar!”
Naquele
dia não logrei êxito em segurar as lágrimas que teimaram em
inundar meus olhos. Após 31 anos eu guardo os detalhes daquele
momento; e, igualmente, neste instante, descrevendo aqueles fatos, ainda preciso deglutir minha saliva
e segurar minha vontade de chorar”.
VOLNEY
AMARAL
Olá Voney! Estou lisonjeada por ter sido lembrada em seu artigo. Essa a grande realização de todo aqule que se pretende poeta: encontar cumplicidade poética. Sempre que puder, apareça lá no meu blog (www.simonemouramendes.com )
ResponderExcluirSaudações
Simone
Volney,
ResponderExcluirÀ medida que lia, fiquei a pensar, em algum lugar ele anda a cantar, levando a paz e espargindo o perfume de amor pelo ar.
Abraços,
Alba
Lendo esse belo artigo, fiquei a imaginar como foi bom os tempos em que os jovens foram privilegiados em poder ouvir belas músicas!! Grupos musicais de altíssima qualidade, cantores e compositores que eram verdadeiramente grandes poetas da música!! Infelizmente não fui uma das privilegiadas fãs dos BEATLES e o grande ELVIS PRESLEY que choraram, pularam simplesmente enlouquecidas... Mais como já dizia o grande Vinícius de Morais “Que não seja imortal, posto que é chama
ResponderExcluirMas que seja infinito enquanto dure” Pois os bons sempre serão lembrados e admirados por suas belas canções verdadeira obras de arte!!! Assim também como você Volney sinto saudades das coisas boas mesmo não tendo vivenciado algumas. Saudades da jovem guarda (ainda bem que meu rei Roberto Carlos continua fazendo o delírio de muitas assim como EU!!!) Legião Urbana, o grande Cazuza, Elis Regina e tantos outros, infelizmente hoje são pouquíssimos que fazem músicas de verdade, pois hoje nossos jovens são obrigados a ouvir coisas que eles juram que é música, nós como pais e educadores dos nossos filhos somos responsáveis a levar e ensinar coisas boas, e uma boa música é uma delas!!! Meu filho de 6 anos é super fã do roupa nova e Michael Jackson.
“NÃO, O SONHO NÃO ACABOU.”
Antonia Lucas
Querido tio Volney!
ResponderExcluirBelíssima descrição de quem viveu, ainda que de longe, aquele tristíssimo capítulo da história que, para mim, é o que há de mais trágico na música.
Toda vez que penso no assassinato, chego a sentir algum alívio por ter apenas 1 mês e 8 dias de vida quando aconteceu o fato... Pq se tivesse, por exemplo, sua idade na época... sei não... acho q iria pirar.
Interessante q oq mais me entristesse nessa história, mais até doq a perda do ARTISTA, é o fato de a monstruosidade daquele lunático ter privado o Lennon da convivência do filho dele... A história familiar do John Lennon é um tanto traumática: separação dos pais, disputa pela sua guarda, morou com a tia, reconciliação com a mãe e logo em seguida a morte trágica dela, um filho nascido no auge do sucesso dos Beatles (Julian), oq fez de Lennon um pai ausente...
Enfim, Sean era a chance que ele tinha, agora mais maduro, de escrever um lindo capítulo em sua história de família... mas não foi possível.
O artista está aí, e sempre estará... em discos e imagens para o deleite de nós, fãs... mas e para aquele cara cuja imagem do pai extremamente vaga, pra não dizer nenhuma?
Grande abraço e parabéns pelo blog!!
Deraldo Veloso.
Deraldinho, já tinha lido seu comentário na época próxima da publicação deste artigo. Reli, hoje, com um novo ponto de vista e abordagem. Admiro seu amor pela música, a mais fantástica terapia para todos os males. Você se nos apresenta como uma verdadeira enciclopédia, estudando e se interessando não só pelo que é atual, em termos de música, mas pelo que é belo e de valor artístico, não importa a época em que foi feito ou fez sucesso. Seu gosto é refina e eclético. Tinha que ser assim. Um beijão de seu tio.
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