A INCRÍVEL CIDADE COM UM GARI PARA CADA HABITANTE!


Tenho certeza que todos nós já nos deparamos com esta terrível cena cotidiana: um carro passa e alguém desde seu interior, após ter rasgador uma folha de papel em mil pedacinhos, aproveita a velocidade relativa do vento e joga aquele maço incontável de papeluchos ao céu!

A cena, por ter uma característica quase pirotécnica, seria bela de se ver, não fossem as terríveis consequências daí decorrentes.

Também é comum um transeunte fumante, após seu último trago, arremessar, a plena força dos dedos médio e polegar, a ponta do cigarro que acabou de consumir, como se estivesse a tentar bater o recorde mundial de toia à distância!

Citamos apenas dois exemplos, mas o número de itens que as pessoas dispõem de forma inadequada beira o infinito!

Tal como mexericos maledicentes e inverídicos que jamais poderão ser a todos desmentidos, os papeluchos rasgados e jogados ao vento pelas pessoas, as tóias de cigarro e as embalagens de refrigerantes são impossíveis de ser coletados na sua inteireza. Produzir esse tipo de lixo público insano, indigno, mal-educado e absolutamente evitável é muito grave.

Nada como uma hora de chuva forte para que possamos ver reveladas as consequências nefastas desses hábitos pouco recomendáveis. Os riachos, tal como se estivessem a vomitar, lançam ao mar milhares de garrafas PET(1), fraldas empapadas de excrementos, absorventes higiênicos (no caso, já não mais com essa característica que o termo lhes empresta), embalagens de tudo que é tipo de produto, tudo isso devidamente acompanhado de vírus, bactérias, fungos e germes, muitos deles letais ou extremamente nocivos à saúde pública.

Nas ruas, os sacos de lixo doméstico que, amontoados nas calçadas, já tenham sofrido o assédio dos catadores de lixo reciclável e aguardam a cada-dia-mais-rara passagem do caminhão de coleta, são outros elementos que coadjuvam e magnificam esses estragos quando a torrente chega.

Bons tempos aqueles em que a coleta de lixo tinha o compromisso diário com as pessoas! Todo dia eles passavam com pontualidade quase britânica na nossa rua. Mas os papéis se inverteram hoje em dia, notaram? Hoje o compromisso é das pessoas com a companhia de coleta de lixo, e não o contrário: eles só passam na sua rua em determinado dia e hora por eles fixados! Você é quem tem que ficar atendo, senão, só na semana seguinte!

Os bueiros, plenos desses entulhos que lhes são trazidos pelo curso natural das águas pluviais, não conseguem absorver e drenar a enxurrada, inundando ruas e avenidas, alagando casas e obrigando as pessoas a se refugiarem nos telhados e lajes, quando não lhes ceifam a vida de roldão, e a içar seus móveis para um local alto da casa, para que não sejam irremediavelmente danificados. Não era bem assim, tão literalmente, que as pessoas gostariam de “subir na vida”, tenho certeza.

Aí, voltamos à já batida conclusão de que a educação é a base de tudo. Todos concordamos com essa ideia; só que, afora a educação informal e doméstica, muito pouco se faz no sentido de realmente mudar esse bem de primeira necessidade, excetuando-se alguns jingles que às vezes ouvimos no rádio.

Inexiste cidade neste mundo que consiga manter-se limpa e com suas galerias  pluviais fluentes com tanta porcaria que se joga ao léu.

Nos automóveis particulares e, principalmente, nos transportes coletivos, de onde temos visto o maior número de arremessos de lixo à distância, deveria sempre haver um repositório de lixo. As sacolinhas-lixeiros com que alguns postos de gasolina brindam seus clientes são, igualmente, um instrumento muito eficaz para diminuir o arremesso de lixo nas ruas.

Se o sujeito quiser viver na sujeira, que seja dentro de sua casa ou de seu carro, mas que livre a via pública de sua falta de educação e civilidade, pois ninguém gosta de compartilhar esse traço horroroso da civilização. Também não cabe vincular essa prática (arremesso de lixo à distância) à condição de pobreza, pois deve estar na consciência de qualquer pessoa que viver em um ambiente limpo até minimiza os efeitos de suas limitações econômicas. É como se disséssemos que "o fel é amargo para ricos e pobres".

Ainda levará algum tempo para que as pessoas se deem conta de que esse trabalho negativo, esse desserviço coletivo à limpeza e à saúde públicas pode ser facilmente resolvido. Sinto-me parcialmente realizado como pai e cidadão, por ter educado meus filhos a nunca jogarem lixo em qualquer outro lugar, senão no lixeiro. As mudanças devem começar por aí: na educação das pessoas desde a infância, desde a mais tenra idade e desde dentro de sua casa.

Para que uma cidade suporte tamanha agressão e se mantenha sempre limpa, seria necessário que a metade de sua população fosse constituída de garis. Mas, convenhamos, isso é impossível.

Mas eu tenho uma solução: que tal se cada um de nós fôssemos nosso próprio gari? Já pensou? Seria a cidade ideal: um gari por habitante! A cidade iria ficar tinindo de limpa!

VOLNEY AMARAL


(1) Politereftalato de Etileno (in http://pt.wikipedia.org/wiki/PET_(pl%C3%A1stico))




Comentários

  1. Volney,

    Eis uma ótima ideia, cuidarmos do nosso próprio lixo.
    Abraços,
    Alba

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  2. Desejo contribuir com algumas experiências minhas, ainda no contexto. Utilizo muito minha moto para me locomover aqui, em SP. Já perdi a conta: das cuspidas que levei; dos sacos de salgadinho que já aparei; das braçadas que já tomei; das bitucas de cigarros, que quase fui obrigado a tragar; etc. Todos estes itens, foram arremessados dos interiores de dezenas de veículos, e atingiram/atingem diversos motociclistas como eu. Quer uma arma letal? Combine o ser humano com qualquer outra coisa, tchãram, eis a arma.

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  3. Pois é meu caro Volney, a educação é a base de tudo!!! precisamos nos educar mais a cada novo dia e principalmente educar nossos filhos para ter-mos um lugar melhor de se viver, e a natureza agradecerá!!! Seria uma ótima ideia se cada um cuidasse melhor do seu próprio lixo!!

    Abraços,
    Antonia Lucas

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