NOTÍCIAS INSPIRADORAS

ADVERTÊNCIA: este artigo contém assunto inapropriado para menores de 16 anos.

"Os homens inteligentes sempre fazem,
mas os sábios sempre procuram
a melhor forma de fazê-lo."
(de autor desconhecido) 


Há muito tempo tenho notado que certas coisas que tanto defendemos nestes tempos de democracia - e estamos corretíssimos em fazê-lo - servem como instrumento de inspiração para a prática do mal. Refiro-me à liberdade (absoluta) de imprensa. Adianto logo que não vou defender, aqui, a censura do que se deva publicar. Defendo a autocensura, o uso dessa liberdade com sabedoria, não apenas com inteligência ou somente com o poder fazer.

As notícias veiculadas na televisão invadem nossas salas de estar e jantar, alcançando e atingindo-nos, adultos e crianças, indiscriminadamente. Tudo isso sem que sejamos ou estejamos preparados para receber todo e qualquer tipo de notícia.

Não sei se isso ocorre com todas as pessoas, mas acho que o ser humano tem uma tendência natural, também conhecida por "curiosidade", de ver como as coisas incomuns, aí incluídas as violentas, aconteceram.

O mais indigno e grave atos de um ser humano é o assassinato de uma outra pessoa, ainda que seja em legítima defesa. A notícia de um homicídio é algo que choca qualquer pessoa, quando ela se depara com esse fato pela primeira vez na vida. Com o tempo, apesar de tudo, vamos nos acostumando com esse fraticídio, termo aqui usado concebendo que somos todos irmãos, filhos de um mesmo Criador.

Apesar dessa repugnância que as pessoas naturalmente têm com relação a um assassinato, por curiosidade ou por qualquer outro motivo, volvemos os olhos para cenas que, no fundo, nem queremos ver.


Quem não fixa os olhos, por exemplo, nas cenas do assassinato do ex-presidente americano John Kennedy se elas estiverem sendo mostradas? Na reação desesperada e inútil de sua de sua esposa Jacqueline Kennedy a catar os fragmentos da massa encefálica do marido que já se inclinava sem viabilidade no banco do carro presidencial?

Mas aquilo são cenas que nunca vimos ao vivo, ou que aconteceram remotamente no tempo e no espaço. A televisão, com o avanço das telecomunicações, veio a nos proporcionar esse espetáculo grotesco de, inadvertidamente, nos depararmos com cenas ao vivo, ou recentíssimas.

A primeira imagem televisiva de assassinato explícita que me vem à memória, quando busco na linha do tempo o início desse novelo que não parece ter fim, foi mostrada no noticiário de maior audiência no país. É uma reportagem sobre os choques envolvendo civis e forças do governo de EL Salvador: o assassinato covarde e a sangue frio, por um soldado das forças governamentais, de um repórter que cobria aquele conflito interno naquele pequeno país da América Central.

A imagem mostrava em zoom que um soldado salvadorenho havia detido um repórter de uma televisão americana que cobria a guerra. O repórter, rendido, de mãos para cima é trazido para perto daquele soldado das forças governamentais, que o fez deitar no chão. Alguns segundos depois, o soldado, sem qualquer provocação ou movimento hostil do repórter que estava sob sua tutela e domínio, desfere um tiro de fuzil na cabeça do repórter, cujo corpo ondula com o impacto do tiro.

A Rede Globo de Televisão, que outrora prezava por algo que passou a chamar "Padrão Globo de Qualidade", viu seus telejornais perderem audiência para os telejornais de outras redes que não tinham a discrição de mostrar de tudo, inclusive notícia séria. E passou a fazer o mesmo.

Na guerra pela maior audiência, a regra atual é o vale-tudo, inclusive mostrar as cenas mais grotescas da verdadeira guerra civil que nos assola. Agora, o que predomina mesmo nos noticiários televisivos são os flagrantes de violência explícita, assassinatos, assaltos, fugas espetaculares, explosões, sem falar nas cenas de guerra. Os helicópteros viraram veículo indispensável para cenas externas.

Hoje em dia, essas cenas são mostradas quase que diariamente, em quantidade e qualidade incrivelmente altas! As saidinhas de banco, as explosões de caixas-rápidos de autoatendimento dos bancos, as mirabolantes fraudes com cartões de banco, usando aparelhos chupa-cabra, as invasões de domicílios à luz do dia, os assassinatos de pessoas em seu próprio carro à espera da abertura do portão de casa são apenas alguns exemplos da farta variedade de disciplinas do crime mostradas na TV.

Daí eu dizer que, apesar dessa liberdade, os veículos de comunicação deveriam, sim, exercer uma espécie de autocensura, um filtro sobre o que irá mostrar na televisão. Isso porque os noticiários televisivos viraram um curso online de bandidagem que inspiram os bandidos já existentes com aulas práticas e demonstração de novas formas, meios, variações, metodologias e resultados, inclusive o pior deles: a impunidade! 

Pior que isso, eles inspiram e exercem a função de um curso de formação de novos bandidos, de novas técnicas, de novas ideias criminosas, de novas formas de executar os crimes". Eles inspiram crianças, adolescentes e jovens que, devido sua condição social extremamente desfavorável, de falta de emprego e renda, de falta moradia decente, de falta de bons exemplos de homens públicos, acabam por trilhar o caminho mais curto para a sobrevivência: o do crime.

Outros aspectos negativos dessa liberdade de expressão absoluta também têm sido experimentados pela humanidade. O mais atual deles, a idiotice de alguém execrar a figura do profeta Maomé, em um filme absolutamente inútil e dispensável, já desencadeou uma reação no mundo muçulmano, cujas consequências, ainda sem controle pelos países, não se sabe ate onde irá. Por conta da ira igualmente exacerbada e desproporcional dos muçulmanos, as vítimas não são escolhidas: todos nós somos potencialmente passíveis de sofrer com os estilhaços da reação dos ofendidos pela utilização irracional de um direito fundamental do ser humano: o da liberdade de expressão.

De uns trinta anos para cá, o cinema engrossou essa onda de insensatez da liberdade de expressão, tanto na violência quanto no viés religioso. Filmes como "Je vous salue, Marie" e "A última tentação de Jesus Cristo" são exemplos históricos do desserviço que prestam à liberdade de expressão. Por sua inutilidade, desaconselha-se assisti-los, a menos que você goste de se indignar.

Outros filmes cultuaram a violência em nome da liberdade de expressão, mas acabaram por influenciar pessoas à prática de crimes, tal como a película mostrou nas telas. Um deles eu tive o desprazer de, inadvertidamente, assistir: "Assassinos por natureza" (Natural Born Killers), dirigido pelo polêmico Oliver Stone. 

Esse filme influenciou diversas pessoas, por exemplo, o americano Ronney Jack Beasly à prática de homicídio doloso, assalto a mão armada, roubo e furto. No julgamento de Beasly, o filme foi mostrado integralmente ao corpo de jurados e uma cópia física do filme foi anexada aos autos como prova de acusação.  

Oliver Stone chegou a ser condenado a indenizar os pais da vítima. Isto é apenas um caso tido como relacionado ao filme. Na verdade, há uma lista de, pelo menos, 5 casos, com dezenas de pessoas assassinadas por inspiração do filme e mais 9 incidentes com outra leva de vitimas. 

Como vimos nem tudo que é permitido é conveniente. Com a liberdade de expressão ocorre o mesmo. Nem tudo que você pode expressar você deve, necessariamente, expressar. A regra, então, deve ser o uso de todos seus poderes com prudência, razoabilidade e sabedoria.

VOLNEY AMARAL


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