DOR DE BARRIGA INCONTROLÁVEL

Não há situação pior que uma dor de barriga com cólicas e contrações intestinais incontroláveis, especialmente quando isso ocorre em lugar público e longe de uma aparelho sanitário!

Cólicas intestinais têm a desgraçada característica de fazer a gente gemer sem sentir dor (uuuhhh, uuuuhhh), de fazer força sem querer (hummmm, huummmm), em ondas que vão aumentando, aumento, e que, se você não tiver controle, o resultado é imprevisível. Parece um parto natural!

Nós, Mosart, eu e Zezinho, os três filhos mais novos de dona Iolanda, sempre fomos muito ligados um aos outros. Quando mais novos, brincávamos juntos, saíamos juntos e compartilhávamos as aventuras e travessuras.

Em 1972, comemorava-se  o sesquicentenário da independência do Brasil. Na onda ufanista que marcou aqueles anos de chumbo, o governo federal investiu pesado nas comemorações. No rastro da conquista definitiva da Taça Jules Rimet (Copa de 1970),  o Brasil organizou a "Minicopa", com seleções de todo o mundo. O Trapichão, ainda novinho em folha, sediou um grupo dessa Minicopa.

No âmbito estadual, o governo promoveu uma série de festividades com atrações esportivas e artísticas que tomaram lugar também no Trapichão. O ponto alto dessas atrações eram os shows de cantores famosos da época. Por ser de entrada franca, famílias inteiras, com homens mulheres e meninos acorriam aos shows. Pegava assento decente quem chegasse mais cedo.

E lá fomos nós três ver o show daquela noite. A atração era Vanusa.

Estando lotadas as cadeiras inferiores (hoje encobertas pelas arquibancadas baixas), só encontramos lugar para sentar no chão, ao longo de um dos corredores de acesso às filas mais altas. Sentei-me ao lado de Zezinho. Mosart sentou-se no batente à nossa frente. Outras pessoas também compartilhavam aqueles batentes improvisados como assentos. O Trapichão tava tão lotado que ficamos de certo modo enclausurados onde sentamos. 

Começa o show. Não demorou muito, daí a uns 30 minutos notei uma inquietude em Mosart, que se mexia muito, mudando de posição de sentar. Passados alguns minutos ele virou para mim e com um semblante de quem estava incomodado com alguma coisa ele me disse: 

- Eu não estou me sentindo bem, Vol.  
- Como assim, Mô? - indaguei-lhe. 
- Minha barriga tá remexendo aqui dentro, fazendo um barulho esquisito. Estou sentindo umas cólicas fortes. Não estou segurando mais - disse Mosart 

Não dei a devida importância que o caso merecia, mas as tripas de Mosart naquele momento produziam movimentos peristálticos consideráveis e um barulho que faziam seu abdômen vibrar. A formação e a dinâmica de gases em suas vísceras foi aumentando a pressão interna a ponto de ele sentir náuseas.  Dali a pouco, Mosart tentou soltar um providencial pum para aliviar a pressão. Não teve muita sorte. O pum trouxe consigo   gases e uma rajada de cocô, me contaria ele mais tarde!

- "Caguei-me!" ele deve ter pensado naquele momento.
- Vol, preciso ir ao banheiro urgente! Chame Zezinho ligeiro e vamos comigo lá - disse-me.

Quando Mosart se apressou em se levantar, mesmo antes que concordássemos com ele, um garotinho que estava próximo apontou para a bunda dele e, gargalhando,  quase gritando, mostrou ao pai o que vira:

- Óia, pai, óia! KKKKKKKK 

Isso imediatamente chamou a atenção das demais pessoas no entorno. E todos voltaram seus olhares para onde o garotinho apontava: a parte traseira das calças de Mosart. As risadas variavam de discretas a escandalosas!

Mosart, que jé era uma pessoa tímida, nessa hora não encontrou terra no chão. Tomado de um desespero, tudo o que ele queria era se evadir do local.

- Vamos sair logo, Vol! - disse-me ele, sem esperar qualquer resposta minha. E se mandou meio correndo, meio andando, mas com o cuidado de não deixar cair pelo chão as marcas do que se foi!

A situação era, ao mesmo tempo, trágica e cômica. Corremos para alcançar Mosart, que já dobrava na direção da saída das cadeiras inferiores em busca de um sanitário que certamente não iria ter sequer um pedaço de papel higiênico disponível!

Depois de checar a situação, ele realmente concluiu que, incontinentemente, o que ele temia tinha acontecido ao soltar o pum. Sem papel higiênico e com a porta do sanitário sem tranca tivemos que montar guarda na entrada para prevenir a vinda de alguém. E, sem muitos recursos no banheiro, Mosart teve que sacrificar as meias que usava para fazer sua higienização. Estas, juntamente com a cueca, foram propositalmente "esquecidas" no lixeiro que existia ali.

Só que Mosart não sabia que o garotinho, na verdade, estava a apontar para outra coisa. 

Mosart sentara bem em cima de um chiclete mole jogado ao chão e, ao levantar-se, o chiclete colou em sua calça e formou-se aquele rabo cor-de-rosa entre o chão e sua bunda. Era disso que riam, mas, no desespero, ele nem imaginou que fosse! Pagou um mico, sem ter nada a ver com o que realmente acontecera.

A dor de barriga ainda ameaçava fazer estragos mesmo depois de ele ter ido ao sanitário. O show de Vanusa obviamente acabou ali mesmo para a gente. Nem me lembro as canções que ela cantou naquela noite. 

Essa história rendeu milhões de gargalhadas minhas e de Zezinho no trajeto Trapichão - Praça do Pirulito. Por sorte, ele trata o episódio com muito bom humor até hoje. 

Nesta semana, eu me lembrei dessa história numa roda de amigos e, para provar sua veracidade, liguei para ele.

- Tio Bobô..." ("Tio Bobô" é como os sobrinhos carinhosamente o chamam), "...estou no viva-voz com a minha turma aqui." - Todos fizeram silêncio para escutar minha conversa com ele.

- Você se lembra daquela história que aconteceu no Trapichão no sesquicentenário da independência?

- Qual? Aquela que eu me caguei todo?" - 

Gargalhada geral de um lado e do outro na linha!


VOLNEY AMARAL

Comentários

  1. kkkkkkkk Muito engraçado. Eita que situação!!!

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  2. vige q baixariaaa!!
    Destaque para ["Caguei-me!" ele deve ter pensado naquele momento.] a linguagem coloquial nesse momento num cabe não hein? nem em pensamentoO! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  3. Marcella, a gente deveria bolar uma sitcom, porque conteúdo o tio Volney tem de sobra, e o blog é a prova! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  4. Muito engraçado, Volney! Tou no trabalho e não tive como conter o riso. Agora uma coisa é certa: quem nunca passou por uma situação, ao menos parecida com essa??? Adorooooo suas histórias, mas nem sempre consigo comentar.

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