“Infâmia,
Infâmia!!” Demorei a pegar no sono nessa madrugada (19/02/2013), ao
assistir no noticiário da TV reportagem sobre as manifestações de
hostilidade, ainda mais fortes que as de sua chegada ao aeroporto de
Recife, sofridas pela blogueira e ativista cubana Yoani Sánchez na cidade de Feira de Santana.
As
primeiras palavras que me vieram à mente foram como uma espécie de
eco daquelas proferidas por Roosevelt e que findaram por batizar o
dia 7 de dezembro de 1941 como “O Dia da Infâmia”, referindo-se
ao covarde, insensato e inoportuno ataque dos japoneses a Pearl
Harbor.
Yoani,
que por intermédio de seu blog
(http://www.desdecuba.com/generaciony/) defende as liberdades de
expressão e “ambulatória”, como gostava de chamar a “liberdade
de ir e vir” o mestre Torinho, em sua aulas de Direito Penal,
hostilizada, acuada, surpresa e até com um discreto pavor, sacou de
duas de suas mais ferinas armas - a palavra e a ternura - e
desfechou um soco técnico na anti-claque que protestava contra sua
chegada a Recife, dizendo algo mais ou menos assim: "Isso é a democracia. É tudo pelo que luto para ver em Cuba, as pessoas expressando suas opiniões em contrário..."
Mais tarde, ela publicaria em seu blog:
“...
Havia flores, presentes e até mesmo um grupo de pessoas
insultando-me, que eu realmente gostei porque me permitiu confessar
que eu sonhei que "um dia no meu país as pessoas pudessem
expressar publicamente contra algo, sem retaliação." Um
verdadeiro presente de pluralidade, para mim que venho de uma ilha
que tentaram pintar com cores monocromáticas de unanimidade...”
Eu acho é tome!
Assistimos,
há quase uma década, o espocar de reações cada vez mais
retrógradas e atentadoras contra as liberdades individuais na nossa
América do Sul.
A
botocada Cristina Kirschner, ao poucos vai sufocando a imprensa
argentina, com pequenas medidas que, pelo conjunto da obra, resultam
numa severa limitação ao poder de a imprensa criticar seu governo.
Rafael
Correa, o jovem presidente equatoriano reeleito nestes dias para um
terceiro mandato, já acena com as reformas na lei de imprensa de seu país,
montado, agora, na maioria que detém no parlamento. E,
ainda por cima, dedica sua vitória a ninguém mais, ninguém menos,
que Hugo Chávez.
Este último, por sua vez, dispensa apresentações. O que ele fez de menos grave na Venezuela foi invadir e tirar do ar emissoras de TV e rádio que se opunham ao seu governo. Valei-me! Em termos de liberdade de expressão esse também exala cheiro de enxofre!
Este último, por sua vez, dispensa apresentações. O que ele fez de menos grave na Venezuela foi invadir e tirar do ar emissoras de TV e rádio que se opunham ao seu governo. Valei-me! Em termos de liberdade de expressão esse também exala cheiro de enxofre!
Evo
Morales egresso das tribos indígenas cocaleiras (cultivo da
folha de coca, inclusive para chás) andinas, apesar de formalmente existir
liberdade de imprensa na Bolívia, vai, aos poucos, introduzindo no país leis
que amordaçam ou limitam a liberdade de expressão, alinhando,seu
discurso, aos de seus vizinhos Equador e Venezuela.
No
Brasil, o PT, no poder há uma década, já ensaiou por mais de duas
vezes fazer mudanças na liberdade de imprensa, leia-se liberdade de
expressão de todos nós, não só da imprensa em si, porque é a través
da imprensa que as expressões melhor repercutem. São sutis,
subliminares, discretos, escamoteiam, mas querem, mesmo, é alcançar
esse objetivo de calar, restringir justamente aquilo que lhes
permitiu chegar ao poder: o direito de denunciar, criticar, apontar
os erros e, mais que tudo, o próprio direito de escolher seus
governantes, espécie do gênero liberdade de expressão. São
prenúncios desalentadores, muito embora a grita geral dos que defendem essa liberdade ter desestimulado ou apenas adiado o ataque final.
A revista
Veja, tão criticada pelo PT nos últimos tempos, mercê dos
bombásticos furos com relação aos aloprados, doleiros, cuequeiros,
mensaleiros e outras espécies de escândalos que coincidentemente
envolveram nomes de suas hostes, mais uma vez acertou na reportagem que
trouxe nesta semana, ao denunciar a ingerência cubana em nossa
democracia, através do arregimentação de militantes para engendrar
ações que viessem a desestabilizar e desprestigiar a imagem de
Yoani Sánchez, o que a revista chamou de "operação de desqualificação de Yoani".
Segundo denuncia a revista, integrantes da Embaixada Cubana no Brasil fizeram reunião com brasileiros, distribuiu
CD's com conteúdo anti Yoani, devendo ter, obviamente, financiado a compra de
cartazes, faixas, o pagamento de cachês (ou o termo mais apropriado seria michês?) de porta-cartazes a brasileiros e arregimentou, inclusive, um assessor da Secretaria da
Presidência da República! Com certeza isso seria impossível no
sentido inverso!
Uma
infâmia, muito embora até mesmo a esses demonstradores nós
garantamos o direito de ser infames e de expressar seu abuso de
direito de liberdade de expressão!
Em um
Brasil caracterizado pelo comodismo e passividade políticos, pela
ausência de militantes petistas ou não protestando contra os escândalos políticos, contra o sucateamento da saúde pública,
contra o avanço das drogas, contra a violência desenfreada e
bárbara, dentre outras coisas, resta-nos, tão somente comemorar, com nosso cinismo, o
surgimento de mais uma coisa genuinamente brasileira: os garotos e
garotas de programa (ideológico), ou de aluguel, ou, simplesmente, mercenários, com o devido respeito
àqueles outros originais.
O Brasil
que se calou, o Brasil que não foi ao aeroporto de Guararapes com
faixas e cartazes e palavras de ordem, o Brasil que não foi dar as
boas-vindas é o Brasil que apoia Yoani Sánchez, muito embora nossa
natureza acomodada e passiva não nos impila a fazer isso.
Fica,
aqui, nossa livre, gratuita e sincera expressão, Yoani. Bem vinda ao Brasil!
post scriptum: merece menção honrosa a postura do senador Eduardo Suplicy que, a despeito de ser sempre zen, enfrentou os manifestantes com gana e indignação!
VOLNEY AMARAL
post scriptum: merece menção honrosa a postura do senador Eduardo Suplicy que, a despeito de ser sempre zen, enfrentou os manifestantes com gana e indignação!
VOLNEY AMARAL
Belíssimo texto, Volney.
ResponderExcluirIsso mesmo Volney , idem idem.
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