ASSASSINATOS DE REPUTAÇÕES

Este artigo, de fatos reais, busca resgatar um pouco do muito perdido por alguém. Não busca ressuscitar personagens que bem ou mal protagonizaram os fatos. 

No final do ano passado (2013) foi lançado o livro quase-homônimo deste artigo. Sem querer fazer, aqui, qualquer propaganda comercial ou política para o livro de Romeu Tuma Jr., que causou estardalhaço e muito reboliço, digo que o título é muito abrangente, recorrente e sempre atual.

Em seu livro, Tuma Jr. tratou de seu caso pessoal de execração pública, talvez injusta, quem sabe, de sua imagem e reputação. Mas não são poucas as pessoas que sofrem, de tempos em tempos, injustiças análogas àquelas contadas por Tuma Jr. e que destroem vidas, não somente reputações.

O caso mais absurdo ocorreu recentemente no Guarujá. Uma postagem de um retrato-falado em uma rede social fez uma pessoa inocente ser confundida com uma suposta sequestradora. Não se sabe, ao certo, como, mas Fabiane Maria de Jesus, a inocente cidadã e mãe de família de 33 anos, foi pega, como se fosse a suposta sequestradora, foi amarrada, arrastada, espancada, pisoteada, e trucidada até a morte, sem direito a defesa, por uma multidão endemoniada. Jamais testemunhei violência tão absurda tão próximo de mim!

Nos dias que se seguiram, vi uma reportagem de cunho perigosíssimo na televisão, noticiando que um grupo de mulheres, para se defender de homens que as assediam em ônibus e metrôs, roçando-se nelas, "encoxando"-as ou mesmo tirando fotos de suas intimidades, estaria utilizando-se de apitos distribuídos para muitas mulheres, par chamar a atenção dos demais quando estivessem ou visse alguém em situação de vulnerabilidade em virtude de assédio físico de tarados.

Já imaginaram se uma dessas mulheres lê e interpreta equivocadamente uma cena que apenas se parece uma ação de um tarado e apitam, de forma equivocada, chamando a atenção de todos, acendendo, naquele instante, o mesmo pavio da força que vitimou a senhora Fabiane em Guarujá?

Fico imaginando o sujeito sendo pego, amarrado, arrastado, espancado, pisoteado, e trucidado até a morte, sem direito a defesa, por uma multidão endemoniada, tal como a senhora Fabiane de Guarujá!

Na crônica policial são tantos os casos escabrosos em que a imprensa, sequiosa por vender exemplares de seus jornais com manchetes sensacionalistas, ou as redes de televisão, para atrair picos de audiência, assumem uma ideia, uma vertente da investigação, e simplesmente destroem a pessoa, sua vida, sua reputação, sua família.

Dois anos após a injusta acusação de que foi vítima Augusto Galvão, um outro caso escabroso ocorreu em São Paulo: o caso da "Escola de Educação Infantil Base" (1) em que os proprietários foram injustamente acusados de pedofilia braba. Meses após, depois que a população apedrejou a escola, depois que eles perderam o único negócio que tinham para sobreviver (a própria escolinha), além de suas consciências limpas, chegou-se à conclusão tardia de que eles eram inocentes.

Passados tantos anos, 2014 é um triste aniversário de 20 anos daquilo que chegou próximo a um assassinato da reputação dessa figura humana ímpar, desse colega de profissão extremamente ético e desse pai de uma linda família formada há tantos anos.

Há dez anos, em 2004, no primeiro aniversário decenal dessa grande injustiça, uma parte bem inferior do público que provavelmente teve conhecimento do caso, se leu a Gazeta de Alagoas edição de 10/10/2004, teve a chance de remontar os cacos da imagem estilhaçada de Augusto Galvão. Reproduzo, abaixo, o texto publicado naquele periódico.

"Dez anos atrás, a Gazeta de Alagoas publicava uma matéria, por ocasião da Edição do dia 17 de Outubro de 2004 Em 1994, Augusto Galvão foi acusado de traficar crianças para adoção internacional; agora, Justiça diz que tudo era invenção.

Advogado leva 10 anos para provar inocência (por LUIZA BARREIROS)

Dez anos, um mês e três dias. Foi esse o tempo que durou o pesadelo vivido pelo advogado e procurador de Estado Augusto de Oliveira Galvão Sobrinho, 50 anos. Em 1994, ele foi acusado pelo então curador de menores da capital e hoje procurador de Justiça, Sérgio Jucá, de ser um traficante internacional de crianças. O crime, previsto nos artigos 238 e 239 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é considerado hediondo. Uma década depois, o caso foi arquivado pela Justiça e o advogado foi inocentado, sem que a investigação administrativa iniciada na época fosse sequer transformada em processo judicial. E mais: sem que o acusador apresentasse ao menos uma das “provas irrefutáveis” que, na época, em diversas ocasiões e entrevistas concedidas à imprensa, ele dizia possuir contra o advogado Augusto Galvão. “O curador de menores, doutor Sérgio Jucá, teve os últimos dez anos para provar que estava certo. Nunca trouxe a esse processo uma única prova que pudesse dar respaldo às acusações inverídicas que fez contra o advogado Augusto Galvão”, sentenciou o juiz da 3ª Vara Criminal de Competência Não Privativa, Hélder Costa Loureiro, ao determinar o arquivamento do processo.Publicada no Diário Oficial do Estado, a sentença do juiz Loureiro transitou em julgado em 13 de setembro último, sem que o Ministério Público oferecesse qualquer recurso, o que, na prática, significa o fim do caso. “Foi a materialização, por via judicial, daquilo que eu sabia desde o início. Só lamento que isso tenha acontecido após dez anos, quando eu já tinha sido processado, julgado e condenado pelo doutor Sérgio Jucá, sem que houvesse sequer um processo instaurado contra mim”, afirmou o advogado. “Sérgio Jucá mentiu e a minha vida virou um inferno. A sentença não acaba com os constrangimentos pelos quais eu e minha família passamos durante esse período. Mas posso assegurar que no dia em que ela foi publicada, dormi o melhor sono, sabendo que a Justiça do meu Estado havia reconhecido a minha inocência”.

Kafka

Ainda emocionado, Augusto Galvão conta que, durante todo esse tempo, teve o “desprazer de conhecer muito de perto a triste realidade de ser vítima de uma investigação própria de um processo kafkiano”, no qual a morosidade da Justiça não foi o único complicador. Segundo o próprio juiz Helder Loureiro, a acusação feita por Sérgio Jucá, de que Augusto Galvão estaria “reservando crianças” para lucrar com o oferecimento para adoção por estrangeiros, foi “apressada, irreal e destituída de suporte legal”. 
O que levou dez anos para acontecer, poderia ter sido resolvido em alguns dias. Bastava apenas que, ao invés de criar um fato e ir denunciar à imprensa, o senhor Sérgio Jucá tivesse feito uma apuração ou analisado os 221 documentos com 347 páginas, que fiz questão de juntar aos autos para comprovar que em todos os processos de adoção em que participei como advogado foram cumpridas todas as exigências legais”, disse Augusto Galvão."

Augusto Galvão, apesar de cônscio de sua verdadeira essência, ainda não deixa de sentir uma taquicardia ou vergonha do próprio erro alheio de que foi vítima. Mas isso é característico de quem positivamente tem vergonha, não de si próprio, mas da situação em que foi envolvido.

O pesadelo de dez anos anunciado na matéria veiculada na Gazeta em 2004, no entanto, jamais teve fim. Hoje, passados mais 20 anos, sua saúde se abala quando ao menos suspeita que alguém possa ainda ter em mente as equivocadas manchetes produzidas pela cobertura jornalística do caso.

Jamais fiz qualquer desagravo tão direto e explícito, muito menos público, ao meu amigo Augusto Galvão. Minha discrição, entretanto, que não chega a ser uma omissão, para meu consolo, faz-me tranquilo em saber que jamais deixei de acreditar em sua retidão de caráter, sua ética, sua honestidade e sua inocência no caso da lamentável e leviana acusação sofrida.

A forma que eu encontrei para externar isso foi sempre fazer questão de lhe dar um abraço efusivo, sempre que nos encontramos. Mas isso é muito pouco. Daí este artigo.

VOLNEY AMARAL




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