GALVÃO CAPITULOU

O "Futebol Brasileiro", dito assim, com iniciais maiúsculas e entre aspas deixou de existir nos anos 80. "Que é isso, pai? E os dois títulos que ganhamos de lá para cá?" 

A pergunta de meu filho demonstra que não é assim tão fácil entender - e engolir - uma evidência tão depreciativa para o orgulho brasileiro. 

Nem mesmo os dois títulos mundiais conquistados após aquele período podem representar conceito daquele autêntico, fino, saudoso futebol que imortalizou tantos nomes (não há necessidade de citar qualquer um), alçando-os ao Olimpo do Futebol. 

Há anos que tenho assistido o chato do Galvão Bueno exaltar e superestimar o nosso etilo e qualidade de futebol, ao tempo em que ele fazia o oposto com os adversários, principalmente as seleções sul americanas ("Esse não vai dormir direito hoje, por ter feito um gol no Brasil", disse ele uma certa vez num jogo Brasil x time sul americano). 

Ontem ele ainda ensaiou um desses arroubos ao citar mais um daqueles tabus inócuos ou aquelas estatísticas idiotas que subestimam nossos adversários, mas quedou-se, logo após, como que capitulando: "Mas isso foi há muito tempo, não foi Arnaldo?" 

Não somos o "país do futebol" há muito tempo, nem em técnica, nem em estilo, nem em qualidade, nem em público, nem em gols, nem em títulos. E não foi o placar do "Mineiraço" (7 x 1) sofrido contra a Alemanha na Copa 2014 que selou essa realidade. O placar é o que menos importa, mas a circunstância de irreversibilidade de sua tragicidade histórica. 

Vejam o "Maracanaço": o placar foi apertadinho (2 x 1), apenas um gol de diferença. Mas foi na final e de virada e, à semelhança do "Mineiraço", o Brasil jamais terá a mesma oportunidade, ainda que tivesse capacidade, de dar o troco: virar o placar de um jogo final de Copa, na casa do anfitrião e diante de sua torcida, numa final de Copa, sendo o adversário o grande favorito. Essas oportunidades jamais se repetem! E é isso que explica o orgulho uruguaio mais de 50 anos após!

O consolo é que, diferentemente do que muitos pensam, a hegemonia do futebol (arte, paixão, beleza - não dos títulos) não está nas mãos mais de ninguém, nem dos atuais campeões alemães, nem dos espanhóis. 

Os campos artificialmente molhados antes das partidas de hoje, as bolas mais leves e mais sintéticas e, principalmente, a substituição do amor pelo esporte, pelo clube e pela seleção de seu país, como motivação maior dos atletas, pelas milionárias cifras envolvidas nos patrocínios, nos direitos de imagem, no merchandising mudaram a essência desse apaixonante esporte. 

E o culto à imagem dos jogadores, promovido pelos apelos publicitários e pelo auxílio luxuoso da imprensa esportiva, quem sabe tão venal quanto essa cambada de dirigentes que foram recentemente envolvidos no mega escândalo da FIFA, induz-nos, quase todos, ao equívoco de comprar a ideia de que esses  canelas-de-pau irresponsavelmente predicativados como "craques", "fenômenos", "imperadores", "galáticos" ou coisa que os valham, sejam realmente isso. 

Perdemos mais um título em 2014 e mais uma partida ontem. O que me espantou nessas duas últimas ocasiões foi minha indiferença ante à derrota. 

Vencer por vencer não faz minha cabeça. Não troco o orgulho que sempre sentirei da seleção desclassificada de 82 pelos títulos conquistados após aquela Copa, talvez o último suspiro dado pelo "Futebol Brasileiro", aquele profundo e resolutivo suspiro que se dá antes de morrer!

Maceió 18/06/2015.

VOLNEY AMARAL

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