DE VOLTA PARA O FUTURO



Hoje pela manhã, após 38 anos, voltei ao antigo Colégio Estadual, onde cursei o então científico, atual ensino médio, para tentar obter um novo histórico escolar necessário para me matricular no curso de Economia da UFAL.

Foi lá que, ao final de minha estada hoje, eu encontrei esse jovem aluno de uns 16 anos.





“- Bom dia, jovem!” - cumprimentei-o, educadamente.

“- Bom dia, senhor.” - respondeu-me.

Antes de encontrá-lo, e já tendo requerido meu documento na Secretaria, resolvi pedir permissão e fui dar uma volta no colégio. 

Estamos em janeiro, mas, devido às greves e outros problemas, creio que o ano letivo anterior ainda não havia acabado e estava havendo aula no colégio. Era hora do recreio. O movimento dos alunos nos pátios e fora das salas já havia começado.

Durante esse pequeno passeio, parei encostado a uma coluna do corredor que dá para as salas de aula e avistei a ala e a sala em que eu estudara em 76 e 77. Em meio a tantas recordações, eu imaginei estar vendo meus colegas daquela época.

Percorri outros corredores e fiz questão de parar em frente a última sala em que eu estudara. Havia ali uma professora que ainda conversava com alguns alunos. Foi uma viagem no tempo!

Pude sentir a alegria que eu e meus colegas de turma tínhamos em estar juntos, conversando alegremente em grupos de três, quatro, ou em grupo ainda maiores. Alguns colegas sentados numa escadaria conversavam baixinho e, ao fim de uma fala, todos caíam na gargalhada, como se estivessem ouvindo o desfecho de uma piada pesada.

As meninas, andando de braços dados, a concentração de alunos em frente à cantina, o frescor da juventude, o amor em seus corações, a amizade como padrão de vida estavam ali, à minha frente. Aos poucos, fui sendo tomado por uma emoção, uma saudade, e fui mergulhando nos lugares, cores, olores e odores.

Éramos tão unidos, tão amigos, que detestávamos a chegada do final de semana ou o final do ano quando passaríamos dias ou meses sem nos vermos. Um misto de alegria e tristeza, agora traduzidas em saudade e melancolia, se abateu sobre mim. 

Foi nessa hora que me apareceu o jovem aluno que eu cumprimentei, conforme narrado acima. Após cumprimentá-lo arrisquei uma ousadia:

- Eu... eu posso te dar um abraço? -  indaguei-o.

Ele aquiesceu. Então, aproximei-me o máximo dele e o abracei terna e prolongadamente.

Ele, meio desconfiado daquela atitude minha, recuou um pouco seu rosto e fitou-me nos olhos alternadamente, percebendo minha emoção.

“- Está tudo bem com o senhor?”

Mal consegui balbuciar as poucas palavras que exprimi: "- Está tudo bem. Mas... posso te pedir uma coisa?"

Ele expressou seu consentimento com um leve movimento com a cabeça.

Então eu lhe disse: "Nunca me abandones, viu?”

- Não estou entendendo... Como o senhor se chama?”, inquiriu-me.

“- Volney...”, disse-lhe, com uma breve pausa e com os lábios trêmulos e com muita dificuldade em manter minha emoção. E completei: "Volney da Silva Amaral..."

O jovem arregalou os olhos, deu uma passo atrás, fitou-me de cima a baixo.

“- O senhor tem exatamente o mesmo nome que eu!!”, disse aquele jovem gaguejando.

“- Eu sei, meu jovem, eu sei disso...” disse-lhe, afastando-me e lentamente partindo sem olhar para trás, encabulado com as lágrimas que agora escorriam incontidas em minha face e com uma forte sensação de déjà vu...

VOLNEY AMARAL

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