CONVIVER COM O PASSADO (FAMÍLIA)


Um dos maiores problemas que alguns casais enfrentam em seus relacionamentos é a dificuldade ou a impossibilidade de um conviver com o passado do outro.

Essas vicissitudes do ser humano são motivadas por diversos fatores: um(a) ex-namorado(a), um filho havido fora ou até mesmo antes do relacionamento ou do casamento, uma carta ou uma lembrança material qualquer desse passado.


Há quem sinta dificuldade até de lidar com o relacionamento de sua cara-metade com pessoas que esta jamais amou, senão como verdadeiros amigos!


Não saber suportar isso é assinar um atestado de insegurança e egoísmo. É, antes de tudo, achar que você casou apenas com uma parte de seu par, o que é simplesmente impossível.


Quanto mais aberto o baú do passado de cada um, maior o conhecimento real que se tem da pessoa com quem se está; e menor a possibilidade de surpresas desagradáveis na vida de casado.


Tampouco, a despeito de nunca ser tarde demais, devem as pessoas deixar seu passado se revelar ao seu consorte muito tempo depois que o outro firmou o conceito sobre você, sob pena de o parceiro incidir em grave erro de consentimento. Quanto mais tempo se prolonga a abertura de seu baú, maiores os ressentimentos de quem certamente se autodefinirá como vítima de propaganda enganosa.


Ainda assim, inexistem máculas, traços ou circunstâncias anteriores ao seu relacionamento que não possam ser absorvidos e até, em certas circunstâncias, absolvidos por qualquer desses processos naturais, inclusive pelo tempo.


Não existe retrato antigo que não esteja amarelado ou manchado. Ainda assim, o objeto da imagem que ele revela terá sido o mesmo para sempre.


Certa vez, numa aula de Direito, o professor nos ensinou, citando Pontes de Miranda, que a sentença declaratória é como se acender uma lanterna em um quarto escuro, sobre um objeto qualquer. Ela não irá mudar nem criar nada de novo. Tão somente revelará e trará certeza sobre o que já existia lá.


Ao célebre monge tibetano Dalai Lama é atribuída a autoria da frase que, de tão simples e complexa, ao mesmo tempo, parece ter saído da cabeça de uma criança: "Só existem dois dias no ano em que você não pode fazer nada pela sua vida: Ontem e Amanhã."


Assim, não há o que fazer com relação ao passado de seu marido ou de sua esposa. Você o(a) escolheu com todo o arcabouço de virtudes e defeitos, inclusive os do passado. Ele é o que é - e está com você - também porque viveu e experimentou todos aqueles fatos de seu passado. Você se casa não somente com a pessoa, mas com seu passado também, seja ele qual for.


Todos nós somos o resultado do que passamos e vivemos. O passado esculpe nosso presente - que um dia foi futuro - a cada novo fato, a cada novo relacionamento, a cada novo erro ou acerto. E, se é passado, significa que passou, ainda que tenha cunhado uma marca indelével em seu ser!


Resta-nos, tão somente, regar o presente com compreensão, compaixão e amor altruísta, sentimentos que definem, de uma certa forma, o sentido do perdão, e que nos levará a colher os frutos de um futuro que um dia será, inexoravelmente, UM PRESENTE; em ambos os sentidos.


“Ser feliz”, então, pode-se traduzir como “Receber o PASSADO como um PRESENTE”.


VOLNEY AMARAL
Lei também o artigo CASEI DE NOVO:

Comentários

  1. Li seu belo texto e estou a imaginar o que posso fazer para deixar de viver o passado e construir um presente lindo e com muito mais amor, pois algumas marcas do passado marcaram feito cicatrizes e isso muitas vezes me impedi de ser totalmente feliz...

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  2. Lindo texto meu caro professor. !Quem vive de passado é museu, quem vive de futuro é vidente, e quem vive de presente é Papai Noel. Perdoar faz bem,para não alimentar magoas do passado. Passados bons são eternos,mas sempre passado. Ontem e Amanhã. Eu curto sempre Amanhã.

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  3. Tio, assino embaixo d ecada linha que escrevestes. Sou totalmente a favor de abrir esse baú o quanto antes. Prefiro caminhar na certeza do que ter surpresas desagradáveis no futuro. Adorei o texto! Beijo grande!

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  4. O confortante é saber que ainda há pessoas que fazem reflexões sobre a vida e seus acontecimentos. E nos mostra, que muitas vezes, o problema é menor do que imaginávamos que fosse.

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  5. Volninho sou sua fã.Admiro muito tudo que é escrito por você.Seu texto é maravilhoso. Passado é algo que doi.Seja ele triste ou feliz.A saudade boa, machuca pois não podemos revivê-la.E o passado triste deixa sua marca. E conviver e aceitar não é tarefa fácil.Grande abraço.

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  6. O texto: “Conviver Com o Passado” afirma ser este um problema enfrentado por muitos casais. Deveras, há, inclusive, quem o enfrente por muitos anos, tentando aparentar tê-lo resolvido, quando, na verdade, foi apenas tolerado. O texto também afirma: “não saber suportar isso é sinal de egoísmo ou insegurança. Pode ser. Mas quem é totalmente bom ou totalmente seguro? Ainda não conheci esse ser humano que seja totalmente seguro e bondoso em tudo o que faz. Tudo na vida tem dois lados: o cara e o coroa, o dia e a noite, o pró e o contra. Com a nossa personalidade acontece o mesmo. Ninguém é totalmente bom ou totalmente ruim, ninguém é totalmente seguro ou totalmente inseguro. Vamos usar como exemplos os fatores citados no texto: o(a) ex-namorado(a), os(as) filhos(as) havidos(as) fora do casamento. Quando a nossa cara-metade sente-se insegura em relação a um(a) ex-namorado(a), esse sentimento deve fazer sentido no contexto do relacionamento. Se existe a insegurança, talvez esse fato não tenha ficado realmente no passado, mas nem por isso essa pessoa poderá ser considerada totalmente insegura. Vamos ao outro exemplo: os(as) filhos(as) havidos(as) fora ou antes do relacionamento. Será que recebem o mesmo afeto, a mesma atenção, e TUDO MAIS, que os filhos havidos dentro do casamento? Se a resposta é não, estamos diante de um caso de egoísmo. No entanto, esses sentimentos são inerentes ao ser humano, não nos cabe julgar, apenas respeitar o espaço e os sentimentos alheios.
    Ademais, não podemos falar que as pessoas DEVEM ou NÃO DEVEM tomar tal atitude em relação aos seus passados. O verbo mais adequado é: PODEM. Afinal, todos têm o livre arbítrio para decidir o que querem para si. Dessa forma, podemos concordar com o texto do blog: “resta-nos apenas regar o presente com compreensão, compaixão e amor altruísta”. Aí vou mais além, resta-nos também ter a compreensão para aceitar que cada um tem a sua opinião própria, para entender que não adianta nos comportarmos como “donos da verdade”. Não é certo, a todo custo, tentar convencer as pessoas que a nossa maneira de ver os fatos é a única verdade que existe. Quando, na realidade, sempre existem versões distintas de fazer e ver as coisas. Para um “dono da verdade” suas idéias são sempre salvadoras. Se todos agirem como ele acha que deve ser, o mundo finalmente será consertado. Esse tipo de comportamento dominador pode, por vezes, destruir a boa convivência de um casal ou mesmo de uma família inteira. Resumo: não podemos ser levianos ao ponto de não mensurarmos as conseqüências de nossas intromissões.
    Acerca da explicação do professor de Direito, do que é uma sentença declaratória, exemplificando o passado, sabe-se que esta tem por objeto simplesmente a declaração da existência ou inexistência de uma relação JURÍDICA e não de uma relação AFETIVA. O exemplo do nobre professor não nos permite inferir que as pessoas estejam obrigadas a conviver com o passado, apenas permite ter a certeza de que o passado existe. O texto do blog fala e podemos concordar, apenas nos permitindo fazer uma ressalva: “o passado passou”, mas ele pode ficar no passado. Se vai ficar ou não no passado, vai depender da decisão pessoal de quem está vivenciando o problema e não da opinião pessoal de quem está fora dele.
    Nesse diapasão, o respeito ao espaço e à opinião do outro é primordial. Significa olhar para trás, rever atitudes, valores reais, pois o respeito aos outros desencadeia o respeito a nós mesmos. O fato de conviver ou não com o passado é uma decisão que, sobretudo, deve ser respeitada e nunca invadida, para que cada um encontre sua felicidade.
    Nesse caso, discordando do texto em enfoque, ser feliz pode não ser “receber o passado como um presente”. O passado é história; o futuro é mistério; e o hoje, esse sim é uma dádiva, por isso é um PRESENTE.

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  7. Lindo texto, tio! Traduz com palavras doces a verdade nua e crua de um relacionamento à dois.

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