O BANHO DE DONA PRAZERES

Advertência: contém linguagem e assunto inapropriados para menores de 12 anos;
Nota: baseado em fatos reais. Os nomes foram trocados para preservar a intimidade e a memória dos personagens citados.


Quando criança, lá em Pão de Açúcar, costumávamos brincar na casa de nosso amigo Paulinho, vizinho de seu Cerqueira e dona Prazeres, cujas casas eram contíguas, muro com muro, e davam fundos para a ruela onde eu morava.

Brincávamos de quase tudo, principalmente de esconder (esconde-esconde), minha brincadeira preferida, pela adrenalina e o suspense que desencadeava na gente. No quintal da casa de Paulinho havia uma arvore, talvez uma goiabeira, alta, que passava da altura do muro da casa vizinha, onde moravam seu Cerqueira e sua esposa, dona Prazeres, uma cinquentona, quase sessentona, um pouco obesa.

Nesse dia, brincávamos de esconder na casa de Paulinho quando, numa das vezes em que eu deveria procurar os demais, um de nós se camuflou na copa da goiabeira, achando ser esse um ótimo esconderijo. Percorri vários cômodos da casa, sem sucesso em encontrar qualquer dos participantes da brincadeira. "Devem estar no quintal", pensei. E resolvi procurá-los lá.

No quintal, olhei por trás de todos os possíveis lugares onde eles teriam se escondido, mas não encontrei qualquer um. Nesse instante, quando olhei para a copa da goiabeira, achei Paulinho, tanto que nos entreolhamos. Quando eu já ía gritar para anunciar meu achado ele, desesperado e de olhos arregalados, levou o dedo à boca perpendicularmente aos lábios e fez aquele sinal tradicional de "silêncio!" (shhhh)!

Em seguida, Paulinho balbuciou alguma coisa ininteligível, fazendo somente o gesto das palavras com boca. "O que?!" perguntei-lhe, sem nada entender, também fazendo intuitivamente o uso da linguagem de gestos labiais com o auxílio da cabeça, mãos e braços. Ainda nos comunicando e usando nossa improvisada "Libras", ele gesticulou: "Suba aqui!", repetindo o gesto equivalente a "Silêncio, não faça barulho!". Isso deu para eu entender: "Só pode ser uma coisa boa!", pensei. Imediatamente atendi ao comando de Paulinho e subi na goiabeira, juntando-me a ele.

Merece explicar, aqui, caro leitor, que, naquela época (anos 60) e com a idade que tínhamos (entre 8 e 11 anos), nós, meninos, ficávamos excitados até vendo um casal de namorados se beijar. Não existia em Pão de Açúcar aquela coisa de revistinha sueca de mulher pelada, ou de sexo explícito. Hoje, para minha tristeza, até comércio e consumo de crack existe lá (e em quase todos os municípios brasileiros)!

Ver um casal de namorados se beijando já era o suficiente para liberar nossos hormônios e nos excitar a ponto de ficarmos com nossos diminutos falos, ainda em desenvolvimento, em riste!

Escalei a goiabeira e, quando cheguei à altura que Paulinho estava, ele, ainda com o sinal de "silêncio!" gesticulado, me apontou para o quintal vizinho - da casa de seu Cerqueira. Era um quintal com canteiros de jardins de roseiras, principalmente, entremeados por passarelas de alvenaria. Mas, do alto da goiabeira, a cena que víamos, para aquela idade e época, era a mais excitante possível: dona Prazeres tomava um delicioso e refrescante banho de cuia no quintal, nuinha da silva! Isso (tomar banho de cuia) era muito comum acontecer devido à escassez de água encanada e a eventuais faltas d'água na cidade naqueles tempos, sem falar do calor que fazia.

Apesar de ser um tanto obesa e madurona, dona Prazeres era, para nosso imaginário, uma Brigitte Bardot ou, talvez, uma Rachel Welch, ícones da beleza feminina daquela época, e só não foi "homenageada" naquele ato porque, então, nem dessa facilidade éramos dotados, apesar de a escola da vida já nos ter ensinado esse modus operandi característico de nossa sexualidade.

Ficamos ali, sexualmente excitados, nos deleitando com aquela visão rara, ímpar, inédita e, para nós, super sensual de dona Prazeres tomando aquele banho nua! 


E dona Prazeres jogava água na cabeça, esfregava os seios, as axilas, os glúteos; passava sabonete nas partes íntimas, espumando o monte de vênus e escondendo aquilo por alguns instantes, para depois jogar mais água, revelando tudo novamente. E dona Prazeres se abaixava para encher a cuia e despejar água novamente sobre si... Nossa, como era excitante! O perigo e a excitação eram tão grandes que nos causavam tremores nas pernas! Para nós, aquele banho poderia demorar um século e nós ficaríamos ali, sem sequer piscar o olho!

Àquela altura, outros 2 participantes da brincadeira de esconder, cansados de ninguém os procurar, resolveram aparecer e se uniram àquela seleta e superinteressada dupla de voyeurs na copa da goiabeira, escalando-a, com mais rapidez que o recomendado. Ainda conseguiram assistir as últimas cenas daquele banho erótico.

Dona Prazeres, ainda seminua, já se enxugava quando um dos movimentos bruscos dos galhos da goiabeira, agora obviamente superlotada, chamou sua atenção, revelando-nos! Ela, colérica, mas tomada de pudor, com a face avermelhada e olhos saltando das órbitas,  tomou fôlego e, a plenos pulmões, soltou um berro estridente "Ueeaaaaahhhhhhhhhh! Tarados! Safados, vou dizer à mãe de vocês, viu?"

É bom eu ir logo registrando que, desde nascido - e até bem pouco tempo atrás -, eu tinha um graúdo e famoso sinal no lado esquerdo do meu rosto. Em Pão de Açúcar, cidade pequena, as pessoas se referiam a mim, como "aquele do sinal no rosto". Esse sinal, outrora minha marca de identificação pessoal, foi extirpado há uns 3 anos, por recomendação de minha esposa Lu, Dermatologista de pele cheia! Minha foto abaixo, tirada há uns 12 anos, fala por si:
Proporcionamente, o sinal era bem maior quando eu era criança,
pois meu rosto era menor e o sinal sempre foi deste tamanho
A merda fedeu quando dona Prazeres disse: "Tô reconhecendo você com esse sinal aí no rosto, seu moleque safado!". Rezei para que ela estivesse equivocada no dito reconhecimento. Nesse momento, chega seu Cerqueira: "Que gritos são esses, Prazerinha?", indagou-lhe. "É o fidiolanda e outros me espiando tomar banho trepados ali na goiabeira!" (tradução: fidiolanda = "filho de Iolanda", "Eu!"). "Pronto! Lasquei-me", concluí. 


A descida coletiva da goiabeira foi em forma de cascata e em velocidade superior à gravitacional, com direito a escoriações generalizadas! Parecia uma daquelas brigas de macacos nas disputas por territórios que exibem no Net Geo ou no Discovery Channel!

No dia seguinte, ao ver dona Prazeres indo em direção de minha casa para cumprir a promessa rogada no dia anterior, corri para me esconder debaixo da cama - inutilmente. Ela apresentou uma reclamação formal à minha mãe, contando-lhe o acontecido, tin-tin por tin-tin. Tomei um castigo de não poder brincar na casa de Paulinho por um bom tempo, sem falar, obviamente, no puxão de orelha com gosto de gás que levei, depois que dona Prazeres falou com minha mãe.

Não fosse a abundância de colágeno que tínhamos naquela tenra idade, hoje eu, sem dúvida, teria uma orelha maior que a outra! Saiu barato. Mas aquele banho bem tomado ficou na minha memória! 

Oh, tempo bom!!!!!

VOLNEY AMARAL

Comentários

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!
    Como sempre aqui estou eu rindo pra me acabar das suas histórias..

    Bjos Bruno!!
    Afilhado

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  2. Tem mais! Acompanhe periodicamente nosso blog. A média é de 2 artigos por mês. Valeu pela vista e pelos comentários. Divulgue o blog!

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  3. Maravilhosa narrativa. Como vivi edta época lá na nossa cidade, posso imaginar os nomes reais dos personagens da estória. Kkkkkkkkkkk

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  4. Demais essas historias....Uma viagem....
    Parabéns!!!
    Bjão

    Rita

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