AMOR VERDADEIRO



Durante nossa vida, passamos por várias situações que nos dão a oportunidade de demonstrar aos outros a natureza de nossa essência humana: a presença do amor em nossos sentimentos e atos, ou a sua ausência e, até mesmo, em dimensão diametralmente oposta, a sua face mais negativa: o ódio.

Essas oportunidades, por si, se nos apresentam em diversas ocasiões e lugares, como na convivência em família, no trabalho, assim como nas ruas, nos instantes de festa ou de tristeza, na saúde e na doença, na tempestade ou na calmaria.

Para se ter uma ideia daquilo que pretendo transmitir neste artigo, vou citar algo que aprendi nas aulas de Direito Penal.

A lição dizia que determinadas situações agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime. Assim, por exemplo, apesar de ser uma circunstância que agravaria a pena o fato de alguém praticar um crime “com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel”, tal circunstância não "agravaria" a pena do homicídio qualificado. 

Você pode perguntar "Por que não?" Porque o homicídio já é dito "qualificado" exatamente porque a "qualificação" significa a natureza de mais violenta, mais vil ou mais cruel que o crime é praticado, como, por exemplo, com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel”. 

Ou seja, essa circunstância agrava o crime de homicídio simples, dando-lhe a adjetivação de qualificado. Então, é da própria essência do crime de homicídio qualificado ele ser praticado em determinadas circunstância, dentre as quais essa citada acima (com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel”).

Mutatis mutandis, eu diria que sentir amor por aquele que você tem uma obrigação mais imediata de sentir amor não tem qualquer valor a ser agregado. A mãe tem obrigação de sentir amor verdadeiro pelos filhos, os avós pelos filhos e netos, os irmãos uns pelos outros, e assim por diante. Ou seja, dar um pão a quem não tem fome se nos parece, nessa linha de raciocínio, um ato absolutamente inócuo.

Já a ausência do sentimento de amor pode ser a indiferença, forma menos gravosa, e que somente se justifica se aplicada de forma abstrata. Por exemplo, você não ama a quem não conhece ou convive. Mas, sempre que você for instado a se relacionar de alguma forma com alguém, mesmo um desconhecido, você terá que, necessariamente, demonstrar sua natureza.

Por exemplo: você é indiferente com relação a uma pessoa você jamais viu, mas, ao vê-la pela primeira vez numa situação de fome, desabrigo, necessidade, você é compelido a demonstrar qual é sua essência, seu grau de sentimento de amor cristão.
Porém, a pior maneira que a ausência de amor se apresenta é através de sua antítese: o ódio.

O ódio não é uma mera ausência de amor. É o avesso intencional, doloso e qualificado do amor. Nele você não somente se impõe deixar de sentir amor, mas se impinge um sentimento oposto, fruto da lacuna de alguma parte de sua substância humana.

Então, há aquelas pessoas que verdadeiramente se amam, há aquelas a respeito de quem as pessoas são meramente indiferentes e, por último, aquelas que, diferentemente dos dois níveis anteriores, as pessoas sentem ódio, o sentimento oposto do amor.

Ter a capacidade que ele tem de saber processar e digerir o ódio, vencer seus próprios demônios que habitam seu coração e querer o bem maior, mesmo em relação a quem lhe fez ou faz o mal, ou em relação àquele que você sequer conhece é uma demonstração externa de que você tem uma grande carga de essência humana. É daí que vem os próprios adjetivos “humano”, “humanitário”, “humanístico” etc. 

O amor se manifesta de diversas formas. Algumas delas são exteriorizadas através da humildade, da gratidão, da renúncia, da atenção. Mas a forma mais substancial de se demonstrar que se tem algum amor no coração é através da concessão do perdão. 

Sentir amor por aquele que você poderia facilmente odiar - Isso, sim, é AMOR VERDADEIRO. No mais, estamos simplesmente cumprindo com nosso dever de amor inócuo e sem consequências maiores perante Deus. Porque amar, pura e simplesmente aqueles a que temos o dever de amar por pretexto consanguíneo, não acrescenta muita coisa.

Esses apontamentos que faço não são originais. Há mais de 2000 anos, um certo dia, um jovem galileu ensinou aos homens. Vejam essas citações bíblicas transcritas do site Portal do Espírito(1):

"1. Aprendestes que foi dito: "Amareis o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos." Eu, porém, vos digo: "Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. - Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?" (S. MATEUS, cap. V, vv. 43 a 47.)
2. "Se somente amardes os que vos amam, que mérito se vos reconhecerá, uma vez que as pessoas de má vida também amam os que os amam? - Se o bem somente o fizerdes aos que vo-lo fazem, que mérito se vos reconhecerá, dado que o mesmo faz a gente de má vida? - Se só emprestardes àqueles de quem possais esperar o mesmo favor, que mérito se vos reconhecerá, quando as pessoas de má vida se entreajudam dessa maneira, para auferir a mesma vantagem? Pelo que vos toca, amai os vossos inimigos, fazei bem a todos e auxiliai sem esperar coisa alguma. Então, muito grande será a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, que é bom para os ingratos e até para os maus. - Sede, pois, cheios de misericórdia, como cheio de misericórdia é o vosso Deus." (S. LUCAS, cap. VI, vv. 32 a 36.)
3. Se o amor do próximo constitui o princípio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho."
Refazermos nossos conceitos é um bom exercício para a correção de nosso rumo porventura desviado pelo ódio! Há sempre tempo e perdão disponíveis para isso.
VOLNEY AMARAL

(1)  www.espirito.org.br/portal/codificacao/es/es-12.html

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