Há alguns anos viajei com minha
família para São Paulo. Era um desses fins-de-semana prolongados
que incluía o dia 1º de maio. A viagem foi um pretexto para
comemorarmos o dia do aniversário de meu filho mais novo, que
aniversaria em 30 de abril.
Já em São Paulo, um dos passeios que
programamos foi o de irmos conhecer o Hopi Hari, parque de diversões
perto de Campinas.
Um dos raros brinquedos que curto em
um parque de diversão é a montanha russa. É o desafio que sempre
escolho. E, pelo que pude observar, a montanha russa do Hopi Hari era
de um traçado desafiador. Então eu logo disse a minha esposa e
filhos: aqui eu só estou com um objetivo: andar na montanha russa!.
O resto do passeio naquele parque eu iria ficar prestando atenção e
cuidando deles.
Mas havia um problema: eu, como muita
gente, odeio filas, e a montanha russa é, geralmente, a maior
atração dos parques de diversão. Não deveria ser diferente
naquele parque, e a fila deveria ser longa. Já era cerca de 15:00h
quando eu decidi encarar o desafio.
Do lado de fora dos limites do
brinquedo, percebi que a fila estava relativamente grande. Mas
calculei que valesse a pena gastar até meia hora na espera por minha
vez de curtir aquela atração do parque.
Depois de quase meia hora de fila,
quando cheguei no que pensei ser o seu final, foi que percebi que, lá
dentro, havia, ainda, uma enorme fila em zigue-zague, do tipo curral.
Aquilo me desanimou. Pensei em desistir, mas refleti: “Se for só
isso, acho que vale a pena continuar”.
Não dava para ver para onde a fila
dava, mas imaginei, novamente, que já estivesse próximo de seu
término. Mas quando a fila chegava ao final desses “currais”,
entrava em outro ambiente antes não visível, e me impactava a
paciência.
À medida em que a fila andava eu
procurava avaliar se valia a pena o tempo a ser gasto na fila para eu
alcançar meu grande objetivo. Cada avanço da fila era uma lufada
de ânimo e estimulo, ao passo que cada parada me trazia o desânimo
e a vontade de desistir.
Eu já tinha gasto cerca de 1 hora de
fila: um bom tempo para quem detesta filas. Não queria gastar tanto
tempo assim, mas queria andar na montanha russa. A cada novo curral
para o qual a fila evoluía, eu era tentado a desistir. “Será
que, quando chegarmos ao final desse curral, vai ter outro?”
Em termos práticos, a cada novo
ambiente da fila eu me cansava mais ainda. Minhas pernas doíam de
tanto tempo em pé. Depois de 2 horas de fila, eu pensava muito em
desistir, mas sempre imaginava que o fim da fila poderia estar
próximo. “E eu vou desperdiçar esse tempo todo que eu já
passei aqui para ir embora sem matar minha vontade de andar na
montanha russa?” eu me indagava.
A cada extensão da fila eu queria
desistir, mas me fazia a mesma reflexão: “Poxa, já
cheguei até aqui! Devo desistir e desperdiçar tudo
que conquistei? Já estou tão próximo de atingir o
meu objetivo!” pensava já meio sem noção.
Após longas 3:30 horas, dores nas
pernas, nas costas e cansaço, eu finalmente alcancei o fim da fila e
pude atingir meu objetivo: passar efêmeros 20 segundos no carrinho
da montanha russa!
Na vida, no trabalho, nos estudos e,
principalmente, no casamento, passamos por experiências semelhantes.
Não é raro desistirmos de nossos objetivos maiores e finais por
conta dos obstáculos que se nos apresentam no caminho.
No casamento, por exemplo, a paixão é
a lenha da fogueira que inicialmente move a locomotiva da vida a
dois. O amor, ínsito na paixão, apesar de ser um elemento
constitutivo imprescindível do início de uma relação, não é
algo que, desde então, se consolida e atinge seu apogeu. São as conquistas diárias que o
fazem agregar valores à relação a dois.
A bagagem das venturas e desventuras da vida é a sua própria riqueza, pois nos agrega valores dos quais não podemos abrir mão por nada neste mundo, e deve ser levada em consideração a cada percalço, assim como o longo caminho que eu já tinha percorrido era o que me desestimulava de desistir de seguir em frente naquela fila.
A bagagem das venturas e desventuras da vida é a sua própria riqueza, pois nos agrega valores dos quais não podemos abrir mão por nada neste mundo, e deve ser levada em consideração a cada percalço, assim como o longo caminho que eu já tinha percorrido era o que me desestimulava de desistir de seguir em frente naquela fila.
A perfeição como ser, como
profissional como marido ou mulher é um ideal que nem sempre
alcançamos. Devemos, pois, aproveitar o que é possível e jamais
jogar fora e desperdiçar o tanto quanto já adquirimos de valor imaterial na
caminhada da vida, na fila da vida.
Na comparação entre a fila e o
casamento, o tanto quanto eu já tinha andando na fila, o tanto
quanto eu já tinha agregado de esforço, de sofrimento e de cansaço
era exatamente e antagonicamente o que justificava minha continuação.
Portanto, nos momentos de fraqueza ou
incerteza ou de crise, a pergunta que eu me fiz é bastante
útil: “Poxa, já cheguei até aqui! Devo desistir
e desperdiçar tudo que conquistei?”
Saber disso me ajudou a resistir, a
acreditar e a continuar! E eu alcancei o meu objetivo! Experimente
responder a essa pergunta quando você estiver na dúvida quanto a
abandonar qualquer projeto de vida seu!
Quando, por algum motivo, algo quiser fazê-lo desistir de seu objetivo maior na vida, lembre-se que a a vida, como a fila, anda. Mas
lembre-se, também, do que você construiu e conquistou até ali!
VOLNEY AMARAL
Me identifico com as razões pra não desistir. Quase sempre, ao deixarmos ela metade nossos projetos, lá se vai também tudo que investimos (sentimentos, emoções, valores...) pedaços incompletos de nós...
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