ESCÂNDALO NO CONSULTÓRIO MÉDICO

Certa feita, no início de meu casamento e tendo minha esposa Luciane recentemente inaugurado seu primeiro consultório médico, aconteceu um lance digno de ser contado neste blog.

Habitávamos nossa primeira morada de recém casados, no recém inaugurado Conjunto Artemísia, no bairro Feitosa, comprado, obviamente, em um financiamento que fizemos junto à Caixa Econômica pelo SFH.

Eu quase sempre almoçava em casa e, costumeiramente, após o almoço, fazia uma pequena sesta. Nesse dia especial as coisas não aconteceram como rotineiramente. Era época junina e muitas pessoas costumavam soltar bombas, mesmo durante o dia.

Eu acabara de almoçar e me deitei em nosso quarto, não sem antes fechar a janela de vidro, daquelas de correr, feitas de esquadrias de alumínio, e ligar o ar condicionado para refrescar um pouco o calor que fazia naquela hora do dia, a despeito da época. Afrouxei a gravata, e deitei-me. O sono deveria ser de uns 15 minutos - leve, portanto. 

Geralmente, assim que pego no sono, estando dormindo bem superficialmente ainda, começo logo a mesclar a realidade com os sonhos que logo se iniciam em meu leve sono. E nesse processo, os sons do ambiente, por exemplo, ou do que está passando na televisão, logo se mesclam com meu inconsciente e se inserem em meus sonhos, numa viagem surreal.

Antes de eu ir para o quarto, Lu ficara passando umas roupas suas quando eu me dirigi ao quarto para a sesta. E assim eu estava naquele início de tarde. E assim eu deitei, fechei os olhos e relaxei procurando tirar minha sagrada soneca vespertina, antes de voltar ao trabalho. Aí, as coisas começaram a acontecer na minha mente, na passagem entre a consciência  e o sono.

Eu já caíra levemente no sono quando, de repente, algum moleque acendeu uma bomba na vizinhança. Ao estampido do artefato explosivo, o som do estrondo, numa fração de segundos entrou em meu cérebro pela pequena brecha existente entre o consciente e o inconsciente e se transformou num sonho.

Em sonho misturado à realidade, imaginei que o estouro tivesse sido provocado por um curto circuito do ferro de engomar que Lu estava a usar antes de eu cair no sono.

Levantei-me da cama em um salto de puro reflexo e, sem ainda entender o que realmente se passara, corri, inexplicavelmente, na direção da janela de vidro do quarto, tentando abri-la, sem êxito. Ainda meio torporoso, e não tendo conseguido abrir a ventana, numa fração de segundo dei um empurrão no vidro no sentido perpendicular com toda minha força, fazendo o vidro se romper e se estilhaçar em dezenas de pedaços, dando passagem ao empurrão que empreendera, lacerando principalmente o meu dedo polegar da minha mão direita.

Nesse momento a adrenalina me acordou por completo e eu me dei conta de ter cortado a mão! Olhei para meu dedo polegar, ainda sem estar inundado de sangue e entrevi minha estrutura óssea do dedo, o que causou-me um forte impacto, seguido de uma involuntária e rápida inspiração de pavor. Meus Deus! Que corte feio eu levei, pensei! "Lu, me acuda aqui ligeiro!"

Quando Lu chegou ao quarto perguntando "O que foi isso, menino?", eu segurava minha mão direita com a esquerda, envolvendo o dedo polegar na inútil tentativa de estancar a hemorragia que fazia verter  sangue por entre os dedos.

"Temos que ir para o consultório suturar isso!", sentenciou Lu, já apanhando a chave do carro. O caminho até o consultório não era muito extenso, talvez 3 km. Ao chegarmos lá, ainda era cerca de 13:20h e o consultório somente viria a abrir as portas para o público às 14:00, como de costume. Era tão cedo que a atendente somente chegaria cerca de 30 minutos após, pelo barulho que ouviríamos então.

Prostrado na maca do consultório, fiquei aguardando o pior: a sutura daquele corte precedida das picadas da aplicação de anestesia. Tenho trauma de injeções desde que, ainda pequeno, eu tinha de tomar injeções da terrível Benzetacil, isso, com aquelas agulhas rombudas e cegas daqueles estojos de injeções não descartáveis de antigamente!

"Vamos precisar dar vários pontos!" Aquilo foi terrível de ouvir. Por mais que a anestesia aliviasse a dor, a sensação de tato ainda permanece. E ainda tinha as dolorosas picadas e injeções!

Nossa mão e nossos dedos não são feitos de uma pele tênue. Especialmente a parte externa dos dedos, que tem um couro de textura resistente. Isso fez com que Luciane optasse por fazer uma anestesia de bloqueio, em alguma articulação anterior, ainda que mais distante do local de corte, onde a pele também é resistente.

Só que isso doía demais. A cada picada e injetada que ela dava, a resistência do couro do dedo fazia mais dolorosa a entrada da agulha e eu, frouxo no quesito injeção e com um limiar de dor muito baixo, dava urros e mais urros de pavor e dor.

AAAAIIII ÔÔÔÔÔiii! UUUURRRRRUUUUiiii" "SSSSSSSSHH!" Ai! Ai!

Sequer tínhamos dado conta que o tempo passara e que, lá fora, na recepção do consultório, alguns pacientes já haviam chegado e aguardavam suas vezes de serem atendidos. E da sala de atendimento, os pacientes certamente estavam ouvindo aqueles gritos escandalosos de dor que vinham de dentro do consultório da médica que eles estavam prestes a consultar.

Ainda sem nos apercebermos disso, terminado o serviço, me recompus, me despedi de Lu e saí de sua sala para voltar ao meu trabalho. 

Na recepção, uma mãe e uma criança de uns 8 anos estavam com uma expressão esquisita: a garotinha e a mãe, boquiabertas, de queixo caído, com os olhos arregalados e sem piscar de pavor, se entreolhavam pelo canto do olho. 

Elas seriam as pacientes seguintes a serem atendidas por Lu!

VOLNEY AMARAL










De repente 

Comentários

  1. Luiz Carlos Toledo Pereira15 de junho de 2015 às 21:31

    Rapaz, eu vou pensar duas vezes antes de ser atendido pela Lu.

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