O QUE FIZERAM DE TI, MEU RIO DE JANEIRO?

Não sou carioca. Conheci a cidade do Rio de Janeiro já adulto, em 1981. Tinha eu 21 anos de idade quando fomos visitar um amigo-irmão que fazia residência no Hospital Miguel Couto, ali naquela zona cinzenta que indefine o que é Gávea do que é Leblon para forasteiros como eu.

Mesmo antes de pôr meus pés na “Cidade Maravilhosa”, eu já conhecia, ao meu jeito, o Rio de Janeiro. Quando adolescente, às noites, sintonizávamos a Radio Globo para assistir o “O Seu Redator Chefe” ou o programa de “Adelzon Alves, O Amigo da Madrugada”.

O Rio era um dos meus mais lindos sonhos, quer eu estivesse dormindo ou acordado. De tanto sonhar dormindo com o Rio e me sentir frustrado por acordar e perceber a irrealidade que sentira sonhando, eu cheguei a incorporar nos próprios sonhos que aquilo era tão somente um sonho, o que mitigava minha frustração ao acordar!

O Rio era, então, o centro cultural, o centro turístico, o centro intelectual e artístico do Brasil! O Rio tinha Bolsa de Valores (BVRJ), tinha hotéis holliwoodianos e emblemáticos, tinha um Maracanã com capacidade de, sei lá, 200 mil pessoas. O Rio era acidade onde as coisas definitivamente aconteciam no Brasil.

A Penha, por exemplo, onde meu tio Wilson morava era uma vizinhança de gente simples, apenas, uns pobres mas simplesmente simples, onde se podia andar pelas ruas, sem maiores preocupações de se deparar com forças de “um outro estado” que mais tarde se criaria dentro do Rio: os traficantes e todo seu aparato policialesco, miliciano!

Até o sotaque característico de seus habitantes era uma marca e valor cariocas.

Hoje, chegar ao Rio, de carro ou de avião, se constitui num exercício de fé no dia que virá, considerando o que as linhas Vermelha e Amarela, assim como a Avenida Brasil, são os corredores do perigo e do medo pelos quais se tem que, obrigatoriamente passar. É preciso alguma sorte para entrar no Rio ileso!

Mas o Rio, sem cuidar da gênese de suas mazelas, crê que o dinheiro farto, o questionável progresso e a fama, sem se proceder a um recomeço nos trilhos certos irão salvar a cidade. Por exemplo, trazer e bancar atrações e megaeventos internacionais como os Jogos Pan Americanos e as Olimpíadas, mais de que uma demonstração de prestígio e divulgação positiva para a cidade, é uma forma cruel de se revelar ao mundo o que fizeram daquela “Cidade Maravilhosa”, é um tiro no próprio pé!. “Welcome to Hell”, como dizia a faixa exposta no desembarque de um aeroporto por policiais numa demonstração recente, é uma forma lamentável, mas quase inevitável, de atestar que o Rio é, hoje, para nossa tristeza, uma piada de mal gosto lá fora.

O Rio de Janeiro continua lindo...”, Gilberto Gil, mas, infelizmente, não mais “continua sendo”! É preciso se iniciar, urgentemente, uma reconstrução da cidade, que deverá ser custosa, lenta e gradual, se as escolhas do poder público e, precipuamente, dos cidadãos cariocas forem as mais corretas! Estamos numa grande momento para dar o primeiro passo!

A cidade de São Paulo, uma cidade sem qualquer beleza física, quer natural, quer artificialmente construída pelo homem, e até Brasília, esta rica em belezas moldadas pelo braço humano, de uns 30 anos para cá solaparam o centrismo que o Rio ostentava até os anos 70.

Não sou carioca, mas o Rio também é meu – meu sonho!


VOLNEY AMARAL

Comentários

  1. Sou um ex-carioca. Por causa dessas "atrações" que você descreveu, Volney, não vou ao Rio desde 1996. Mas, muito antes disso, a cada vez que visitava a cidade, temia que a mistura de violência, desorganização, desleixo e corrupção do Rio de Janeiro se espalhasse pelo resto do Brasil, como parece estar acontecendo hoje. O morador da cidade considerava normais esses problemas e era absolutamente tolerante com os evidentes sinais de decadência da cidade. Reagiam como só os cariocas, fazendo piada com tudo. Só agora, quando nem existem mais orelhões, parece ter caído a ficha por lá. Espero que, nas próximas eleições, meus conterrâneos ajudem a mudar a cidade e o País, votando de forma mais responsável do que têm feito historicamente. Temos que eleger no Brasil inteiro gente capaz de interferir de verdade nessa situação calamitosa, mudando nossa leniente legislação, que às vezes me parece feita de encomenda para proteger o crime e todas as formas de transgressão.

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